sábado, 10 de dezembro de 2011

PEDAGOGIA HOSPITALAR

PEDAGOGIA HOSPITALAR

PEDAGOGIA HOSPITALAR



PRÁTICAS EDUCATIVAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES: A PEDAGOGIA NO HOSPITAL


Daniel Feitosa Barros¹
Universidade Federal do Piauí - UFPI

RESUMO

O presente texto tem como objetivo discutir a atuação do Pedagogo em contextos não escolares, aqui em especial, no contexto hospitalar. Nessa perspectiva, fizemos um breve levantamento histórico sobre o conceito de Pedagogia e, também, discorremos acerca de alguns aspectos da formação do Pedagogo nos dias atuais. Nossa fundamentação teórica é baseada nas idéias de autores como Libâneo (2002), Matos& Mugiatti (2009), Franco (2005), dentre outros. Finalmente, nossa pesquisa aponta para distinções significativas acerca das funções e atribuições do pedagogo hospitalar em ambientes não escolares, particularmente, no seu ambiente hospitalar.

PALAVRAS-CHAVE: Pedagogia Hospitalar. Práticas Educativas. Educação. Pedagogia. Ambientes não escolares.

ABSTRACT:

This paper aims to discuss the Pedagogue’s role out of school, particularly in hospital. From this perspective, we made a brief historical survey on the pedagogy concept, and also, we talk about some aspects of Pedagogue formation nowadays. Our theoretical framework is based on ideas of authors such as Lebanon (2002), Mugiatti & Matos (2009), Franco (2005), and others. Finally, our research shows the significant distinctions of the  functions and  Pedagogue's duties out of the school, privately in hospital.

KEYWORDS: Education Hospital. Educational Practices. Education. Pedagogy. Non-school settings.



INTRODUÇÃO

            Antes de iniciarmos uma discussão sobre as práticas pedagógicas e educativas nos ambientes não escolares, em especial no Ambiente Hospitalar, teremos que primeiramente entender o que é a Pedagogia e quais as funções do profissional Pedagogo, pois só assim iremos conseguir entender e enxergar esse profissional nos demais ambientes sociais, além do escolar.
            Muitas pessoas ao ouvirem os termos “Pedagogia” e “Pedagogo”, logo os associam como sendo: “as formas de ensinar” e “aquele que ensina as formas de ensinar”. De fato, há um considerável número de pessoas que acreditam fielmente que a Pedagogia resumiu-se somente a essas formas de ensinar e que o Pedagogo seria o responsável por somente ensinar esses métodos e técnicas de ensino. A sustentação desses conceitos por parte de um número considerável de pessoas (que compõe o senso comum) pode até ser aceito, se quisermos limitar a Pedagogia somente ao metodológico, mas é inadmissível que os profissionais ligados diretamente com a educação, em especial os próprios pedagogos, mantenham essa ideologia. Consideramos LIBÂNEO (2002, p. 62) quando ele afirma que:

[...] Uma pessoa estuda ou se serve da pedagogia para ensinar melhor a matéria, a utilizar técnicas de ensino; desse modo, o pedagógico seria o metodológico. Tal entendimento poderia até ser compreensível, caso fosse atribuído a professores de matérias sem vínculo direto com a educação, ou seja, profissionais do ensino mais ou menos leigos em relação ao campo investigativo da educação. Mas seria impróprio a professores ligados ao campo da educação manter uma ideia de senso comum sobre o caráter do pedagógico.

            Com base nisso, o que não podemos esquecer é que antes da prática pedagógica é necessária a fundamentação teórica científica, a reflexão, os questionamentos, os diálogos, sugestões sobre os conteúdos propostos, a investigação, a pesquisa, etc., o ensinar por sua vez é apenas uma das funções de todo o trabalho pedagógico. A Pedagogia deverá investigar sobre as situações-problemas relacionadas à educação e buscar soluções para as mesmas. Só por essa análise (delegar a pedagogia como aquela que investiga problemas na educação) podemos claramente enxergar que a Pedagogia e o Pedagogo não vão apenas investigar o “ensino” e nem tão pouco, somente os “métodos de se ensinar”, mas sim tudo aquilo que envolva a educação.
            E em tempos de se falar de Educação, é extremamente importante não deixar de salientar que a Pedagogia é a uma ciência que possui como seu objeto de estudo a própria Educação. Daí, podemos nos questionar, quantos problemas existem na educação? Onde a educação se faz necessária? Como podemos exercer a educação e quais são os recursos e/ou processos técnicos necessários para se praticá-la? Essas são apenas algumas das inúmeras outras questões que podem ser levantadas sobre o imenso campo educativo. Ou seja, estamos nesse momento discutindo sobre uma área de estudo enorme e muito, mais muito abrangente. O campo investigativo da educação é gigantesco e bastante diversificado (Brandão, 1995). Para cada pessoa, situação, lugar ou ambiente se faz necessário um comportamento educativo e deve-se ter uma pedagogia própria para estudo e orientação do mesmo. “Como a toda educação corresponde uma pedagogia, também há uma diversidade de trabalhos pedagógicos para além das atividades de educação escolar e ensino” (Libâneo, 2002, p. 60).
Assim, temos inclusive as próprias Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia constadas na Resolução CNE/CP Nº 1, de 15 de maio de 2006, em seu Art. 3º e Parágrafo único, prevêem para o Curso de Pedagogia e seus estudantes uma formação onde:

Art. 3º O estudante de Pedagogia trabalhará com um repertório de informações e habilidades composto por pluralidade de conhecimentos teóricos e práticos, cuja consolidação será proporcionada no exercício da profissão, fundamentando-se em princípios de interdisciplinaridade, contextualização, democratização, pertinência e relevância social, ética e sensibilidade afetiva e estética.
Parágrafo único. Para a formação do licenciado em Pedagogia é central:
I - o conhecimento da escola como organização complexa que tem a função de promover a educação para e na cidadania;
II - a pesquisa, a análise e a aplicação dos resultados de investigações de interesse da área educacional;
III - a participação na gestão de processos educativos e na organização e funcionamento de sistemas e instituições de ensino.

            Ora, como se podem perceber as próprias Diretrizes do respectivo curso fomentam as atividades a serem desenvolvidas na Pedagogia pelo Pedagogo. Ainda em nível de graduação esse profissional exerce inúmeras outras atividades que lhe são incumbidas e que muitas vezes podem ou não estar ligadas direta ou indiretamente ao ensino. A gestão, por exemplo, é um dos trabalhos pedagógicos exercidos pelo Pedagogo que nem sempre vai está ligada ao ambiente escolar e nem tão pouco ao ensino. O Pedagogo pode muito bem gerir um sistema ou uma instituição que não tenha nenhum vínculo com o ambiente escolar, mas que exija educação e qualificação profissional dos demais colaboradores da mesma em suas regulamentações internas. O pedagogo nessa situação seria o responsável por elaborar projetos de “Educação Continuada” para os colaboradores, responsável também pela humanização, pelo respeito, a ética e demais aspectos morais que devem ser mantidos dentro e fora do ambiente de trabalho (seja ele qual for) e não somente com os colaboradores, mas também com a clientela destinada.
O que devemos entender é que, assim como a educação é um gigantesco espaço de investigação a Pedagogia também é. Daí, temos de relembrar mais uma vez que é ela a responsável por investigar este tão enorme e vasto campo educativo. Limitar a Pedagogia ao ensino e o Pedagogo como aquele que somente ensina, como já visto, é o mesmo que reduzi-los somente ao metodológico. A “Pedagogia é, antes de tudo, um campo científico, não um curso. O curso que lhe corresponde é o que forma o investigador da educação e o profissional que realiza tarefas educativas seja ele docente ou não diretamente docente.” (LIBÂNEO, 2002, p. 60).

I)      PEDAGOGIA: AMBIENTE ESCOLAR E NÃO ESCOLAR

            Tomando por base o que viemos discutindo até aqui, é interessante notar a forma singular e significativa de toda atenção voltada para o curso de pedagogia ao ensino. Não é a toa que o ambiente escolar é um dos ambientes mais abordados e procurados para o exercício da profissão do Pedagogo, afinal é na escola onde tudo se ensina e tudo se aprende para a formação de um bom cidadão.
            O ambiente escolar em si, é o local com maior responsabilidade sobre a formação do cidadão, pois em seu papel social tem por finalidade a inteira cobertura sobre os princípios e fins educativos considerados fundamentais para um desenvolvimento harmônico social.
            Se analisarmos bem, a estrutura de uma escola é montada basicamente para sistematização de uma educação contemplada por uma sociedade. Enxergamos esse ambiente, como aquele livre de qualquer má educação, sendo o local mais puro e indicado para se está. Tanto que confiamos a ela a educação disponibilizada a nossas crianças, jovens e adultos, ou seja, confiamos nossa própria vida e o futuro de nossa sociedade. Os pais, por exemplo, confiam deixar seus filhos na escola durante horas do dia, pois acreditam que eles estão no lugar correto para aprenderem e serem educados, bem como para se tornarem pessoas que mantenham o cumprimento das leis respeitando os direitos e deveres uns dos outros. Nesse sentido, podemos afirmar com propriedade que a escola é nosso segundo abrigo, pois depois do ambiente familiar ela é o local mais seguro e intimo que temos.
            De fato, não podemos negar que o ambiente escolar contempla muitas qualidades, inclusive que possui princípios e fins estabelecidos sobre a educação que é ofertada ao seu público-alvo (educandos), tanto que para que uma escola regular funcione, seja ela pública ou privada, a mesma tem de seguir os princípios e fins estabelecidos na forma da Lei 9394/96 que trata das Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que visa junto com a Lei maior que rege nosso país, a Constituição Federal de 1988, oferecer uma educação de qualidade que tem por objetivo promover “o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para exercício da cidadania”.
            Ora, eis aqui a necessidade de começarmos a fazer nossos questionamentos mais uma vez. Se a escola é o local responsável pela educação e formação do cidadão, seria esse o principal local de investigação do campo pedagógico, já que esse foi construído com o objetivo de promover a educação? Assim como vários outros questionamentos que existem sobre o campo educativo escolar, esse é um bastante complexo e que talvez nem encontrem uma resposta satisfatória agora, poderíamos passar horas e mais horas, dias e mais dias e até anos e mais anos discutindo sobre esse questionamento sem encontrar uma resposta com satisfação, mas uma coisa podemos afirmar com segurança, existem outros ambientes que também promovem a educação e que merecem atenção significativa tanto quanto o ambiente escolar.
            Quando falamos de outros ambientes, estamos nos referindo aos espaços não escolares. Aqueles que diferente da escola, não possuem em seu objetivo maior a promoção direta da educação, mas que exigem que se façam educação em suas instâncias. Este é o caso dos ambientes Social, Empresarial e em especial aqui o Hospitalar.
            Tomaremos como primeiro exemplo para análise o ambiente Empresarial, para que logo possamos entender melhor o que se está sendo colocado. Veja bem, em um ambiente empresarial, dependendo do tipo de empresa (sendo uma inserida no mercado capitalista), o seu objetivo maior é seu desenvolvimento e a lucratividade através das “vendas” ou da “produção” de seus produtos específicos. Contudo, para que a empresa busque esse sucesso nas vendas e toda essa lucratividade, é necessário que a mesma possa contar com colaboradores qualificados, que estejam sempre atentos para o desenvolvimento e interesse do meio social e do público-alvo que ela queira atingir. Seus funcionários necessitam trabalhar em equipes, pra que juntos possam chegar em um denominador comum que é o objetivo da instituição, que seria o de oferecer um produto de qualidade a fim de que suas vendas possam crescer e assim aumentar seu lucro.
            Diante de todo o exemplo exposto logo acima, acredito que podemos chegar à conclusão de que para que uma empresa possa obter seu sucesso, é necessário que ela conte com ajuda indispensável da educação. Como chegamos a essa conclusão? É fácil e obvio. A qualificação contínua dos profissionais que trabalham nessa empresa se faz dentro da educação continuada; o trabalho em equipe/ou grupo é uma forma de interação e respeito entre os demais colaboradores (um conhece o trabalho do outro e logo aprendem juntos); conhecer o interesse social para desenvolver produtos de qualidade e satisfação desse meio se faz dentro de uma antropologia educacional que possui objetivos próprios; os projetos de estratégia de produção e venda devem ser elaborados de forma pensada e reflexiva; ou seja, uma empresa, seja ela qual for, necessita de educação para alcançar seu pleno desenvolvimento. Só em admitir que seus colaboradores necessitem está em constante processo de formação continuada, já podemos concluir que a educação se faz presente nesse ambiente, pois eles receberão novos conhecimentos e novas orientações educativas para o melhoramento e aperfeiçoamento de sua mão-de-obra.
            Como podemos perceber diferente do ambiente escolar que oferece sempre a Educação com e em todos os seus aspectos para sua clientela (alunos), o empresarial (não somente ele, mas o social e o hospitalar também) fundamenta-se na Educação para atingir seus interesses e suas metas.
            No ambiente hospitalar, por sua vez, poderíamos aceitar que seu objetivo maior se solidifica no diagnóstico, no tratamento, no cuidar e na atenção integral disponibilizada a saúde dos enfermos. No entanto, essa atenção integral contempla não somente o diagnóstico, o tratamento e o cuidar, mas também a assistência social continuada, a assistência educativa, a humanização, o bem está do enfermo. O trabalho em equipe no hospital é significativo e importantíssimo, pois contribuirá para a cura do paciente.
            Não sei se perceberam, mas em todos os exemplos, sempre o “trabalho em equipe” é mencionado. Não é a toa que Vigotski defende em sua teoria sobre a Zona de Desenvolvimento Proximal que as relações e o trabalho em grupo sempre geram aprendizagens significativas e resultados louváveis para o que se pretende alcançar. É muito mais fácil e prazeroso resolver uma atividade com a ajuda de alguém do que se tentarmos realizá-la sozinhos.
            Para o exercício de práticas educativas nesses ambientes, é necessário que se tenha um profissional capacitado para atuar com segurança nesses espaços. Que seja conhecedor e investigador do campo educativo para melhor saber inserir e aplicar seus conhecimentos junto aos interesses desses espaços. Aqui, sugerimos o profissional Pedagogo como sendo o mais recomendável para determinada tarefa. O porquê dessa sugestão? Bem, vamos entender isso agora.
            Atualmente quando discutimos sobre educação, em especial nos anos iniciais do ensino básico, têm-se o pedagogo como sendo o principal responsável pelo processo de formação educacional inicial nas escolas regulares. É salvo dizer que o curso de pedagogia forma profissional habilitados para o desenvolvimento de trabalho pedagógico em todos os anos do ensino básico regular que este é capacitado (educação infantil, ensino fundamental menor – primeiro ao quinto ano, nos cursos de nível médio e profissionalizantes como forma de apoio pedagógico etc.). Esta capacitação é garantida pelo Art. 2º da RESOLUÇÃO CNE/CP Nº 1, DE 15 DE MAIO DE 2006 onde prevê que:

Art. 2o As Diretrizes Curriculares para o curso de Pedagogia aplicam-se à formação inicial para o exercício da docência na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal, e em cursos de Educação Profissional na área de serviços e apoio escolar, bem como em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos.

Como podemos notar, o pedagogo é aquele responsável pela construção de conhecimentos científicos que compõe a educação fundamental dos anos iniciais de uma sociedade. Nesse contexto, temos que no ensino fundamental devem-se ser administrados aqueles conteúdos que são tidos como necessários e fundamentais para que um indivíduo possa viver sem maiores dificuldades em uma determinada sociedade. Desses conteúdos fundamentais, podemos destacar principais: o desenvolvimento da fala, da escrita, as noções básicas de geografia, história, ciências, matemática, artes, temas transversais e entre outros. É importante ressaltar que cada um desses conhecimentos possui sua significância particular para o indivíduo em formação, por serem administrados de forma sistêmica no âmbito escolar.
            O que não podemos esquecer é que além das Instituições Escolares e Clínicas Psicopedagógicas, a Pedagogia está presente também em outros campos sociais, onde são previstos trabalhos pedagógicos e práticas educativas; considerando o fato de que todo lugar que exista ou necessite de educação, faz-se presente o uso de uma pedagogia (Questione-se: qual é lugar em uma sociedade onde se tenha relações entre as pessoas e que não necessite de educação?).
            Ou seja, retomamos agora a discutir sobre a imensa diversidade e amplitude da educação e das práticas educativas pedagógicas, onde percebemos que a pedagogia não pode se limitar somente ao exercício da docência e nem tão pouco só aos ambientes escolares. Até mesmo porque de acordo com a resolução CNE/CP nº 1, de 15 de maio de 2006 que dispõe sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia, licenciatura. No Art.5º que trata do egresso do curso de pedagogia dispõe que o profissional de pedagogia deverá ser apto a: “IV - trabalhar, em espaços escolares e não-escolares, na promoção da aprendizagem de sujeitos em diferentes fases do desenvolvimento humano, em diversos níveis e modalidades do processo educativo”.
            Veja só a dimensão que apenas o Curso de Pedagogia oferece em nível de graduação, quem dirá o campo investigativo da educação que é a Pedagogia em si. Não esqueçamos que como já mencionado anteriormente por Libâneo, a Pedagogia é antes de tudo um campo investigativo e que o Curso forma apenas o profissional investigador. Sendo que esse profissional deve está preparado para promover a aprendizagem e mediar à educação em todos os espaços que forem identificados e previstos conhecimentos pedagógicos, sendo este escolar ou não escolar.

II)                PEDAGOGIA HOSPITALAR: A PEDAGOGIA E O PEDAGOGO NO HOSPITAL

            Há essa altura de nossa discussão, estima-se que já conseguimos enxergar com mais clareza o Pedagogo em ambientes além do escolar. Vemos o que era Pedagogia e pudemos conhecer um pouco do trabalho pedagógico exercido pelo Pedagogo. Iniciaremos agora nosso diálogo para a vertente da pedagogia no hospital e tentaremos juntos conhecer as práticas pedagógicas nesse ambiente tão carente de atenção humanizada e educacional.
            Faremos referência a nossa conversa quando estávamos discutindo sobre os conteúdos que devem ser administrados ainda em nível fundamental para os educandos que se encontram nesse nível, pelo profissional Pedagogo. Como vimos, os conhecimentos disponibilizados nos anos iniciais do ensino fundamental, como o próprio nível revela, são de fundamental importância para o educando em processo de aprendizagem, por serem indispensáveis para o convívio no meio social. Agora imagine o que aconteceria se esse processo de construção de conhecimento e educação fundamental for interrompido de forma brusca por motivos significativos e diversos, como por exemplo, a aquisição de uma enfermidade que venha a abalar o desenvolvimento cognitivo e físico do educando impedindo-o de frequentar o ambiente escolar. Como ficaria a situação de aprendizagem desse educando?
            Vamos então rever, conforme o exposto na Lei Maior que rege o nosso país, a Constituição Federal de 1988, mais precisamente o Titulo VIII – Da Ordem Social, Capítulo III – Da Educação, da Cultura e do Desporto, Seção I, artigo 205:

a educação é direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Ou seja, se a educação é um direito de todos e para todos, independentemente da situação e quaisquer circunstancias que esteja e que necessite, é primeiramente responsabilidade nossa (social) tentar garantir esse direito aos educandos que estão sendo formados nesse nível de ensino, pois são eles quem vão garantir o destino de nossa sociedade e nação (podendo ser generalizado também ao mundo, pois nossa sociedade está inserida no mundo). Por segundo, e mais específico, do pedagogo, pois ele como sendo o responsável pelo ensino e educação fundamental básica do meio social, deverá primar também por esses direitos e objetivos que são resguardados por nossa Constituição legal direcionada a educação, mediando o acesso ao ensino e educação inclusive às crianças e adolescentes que se encontram hospitalizados por motivos significativos (acometidos por patologias) que os impediram temporariamente ou mesmo definitivamente de frequentar um ambiente escolar regular.
Considerando também as diretrizes da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, Lei 9394/96, a educação se faz como direito de todos dentro dos princípios e fins:

TTULO II
Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber;
III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas;

Veja bem, a Lei 9394/96 explica detalhadamente como se deve fazer acontecer à educação básica como direito de todos, assim entendemos que as crianças e adolescentes que estejam hospitalizados e afastados do ambiente escolar também possam desfrutar desse direito (aprender e educar-se para se tornar cidadãos). Legitimar esse direito exige a disposição de assegurar essas responsabilidades a um profissional competente especialista em educação no ambiente hospitalar, sendo esse aqui referido o Pedagogo Hospitalar, responsável pela mediação do processo de ensino-aprendizagem dos educandos hospitalizados.
O termo Pedagogia Hospitalar designa a educação disponibilizada a crianças e adolescentes hospitalizados, que por motivos diversos tiveram sua saúde abalada. Em detrimento disso, essas crianças e adolescentes são sujeitas a interromper o processo educativo ministrado no ambiente escolar regular, passando assim os ambientes hospitalar e escolar, a exigir a necessidade de um profissional da educação que dedique atenção pedagógica a esses mesmos educandos que se encontra em atendimento hospitalar. Diante disso, esse novo profissional tem por função fazer cumprir o dever de proporcionar a continuidade da educação dessas crianças e jovens, bem como assumir o papel também de ajudar o hospital a concretizar seus próprios objetivos (MATOS e MUGIATTI, 2009, p. 67). O surgimento da pedagogia hospitalar se deu com intuito de proporcionar o estímulo para continuidade dos estudos desses educandos hospitalizados, para que os mesmos não venham a perder o ritmo de aprendizagem e nem tão pouco virem a repetir um ano escolar devido a uma internação hospitalar para tratamento de uma patologia ou má condição de saúde (MATOS e MUGIATTI, 2009, p. 68).
Colocar a educação em prática, em suma não é uma tarefa fácil. E quando se trata dessa prática dentro de um ambiente hospitalar, onde o educando está acometido por uma patologia e cercado de condições físicas, fisiológicas e sociais que dificultam ainda mais o acesso desse educado ao estudo e a aprendizagem, torna a prática educativa algo ainda mais complexo e significativo. Segundo Franco (p.177–178, 2005): "à medida que a sociedade se tornou tão complexa, há que se expandir a intencionalidade educativa para diversos contextos, abrangendo diferentes tipos de formação necessária ao exercício pleno da cidadania”. Em consideração a isso, percebemos que o hospital por se só, já é um ambiente de isolamento do indivíduo do meio social por está em tratamento patológico, e por ser assim, ele passa a exigir a competência de um profissional que seja responsável por intermediar e mostrar as crianças e adolescentes que elas não estão em completo isolamento e que continuam fazendo parte da sociedade, mostrando a elas que mesmo estando em atendimento hospitalar, ainda sim precisam cumprir com direitos, deveres e responsabilidades principalmente com a educação que é resguardada em todo o Capítulo IV da Lei Nº. 8.069, de 13 de julho de 1990 que dispõe sobre do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Nesse contexto a atuação do pedagogo é de mediador entre o educando e a escola (também sociedade), principalmente em ajudar o escolar a desenvolver seu papel de cidadão. O pedagogo hospitalar deve valorizar todo pequeno esforço que é demonstrado pelo aluno, incentivando-o cada vez mais seu desenvolvimento e melhoramento físico e cognitivo, visando sempre o aperfeiçoamento de suas habilidades tanto motoras, quanto intelectuais.
O pedagogo deve sempre levar em consideração os objetivos principais do processo educativo no ambiente hospitalar que é o de educar, humanizar e socializar esses educandos. Tendo em vista que os mesmos encontram-se em grande fragilidade mental e física, um tanto deprimidos por estarem em um ambiente de isolamento do restante do meio social. Isso torna o sofrimento desse escolar ainda maior, pois aqui não tratamos apenas de sofrimento físico ou dor física propriamente dita, mas também do sofrimento psicológico, este que é abalado significativamente, não pela dor, mas situação em que o mesmo se encontra. Portanto, nesse espaço, o pedagogo deve está mais do que bem preparado para enfrentar todas as dificuldades possíveis que serão encontradas nesse processo.
As funções desse profissional nesta área são bastante decisivas para que o discente tenha um resultado satisfatório não só na questão de ensino-aprendizagem, mas também na melhora do tratamento clínico. Neste sentido, é importante que o profissional seja bem preparado, que tenha confiança e competência no momento em que esta atuando, sabendo tomar as decisões cabíveis para cada caso encontrado. Para isso, é necessário que o Pedagogo Hospitalar, possua uma formação que contemple conhecimentos mais do que diversificados em educação e saúde, pois o mesmo terá de saber identificar e reconhecer as limitações de seus alunos, não só em nível de aprendizagem, mas também a nível patológico. Ou seja, ele tem que possuir informações sobre a doença que o discente tenha sido acometido, para que ele possa elaborar atividades de cunho educativo que respeite os limites desse escolar. Isso poderá ele adquirir através de uma formação técnica específica. Consideramos MATOS e MUGIATTI (p.24-25, 2002.) quando propõe que:

[…] é preciso que haja a necessária formação técnica para adaptar, criativamente, essas práticas às novas realidades que se apresentem. Assim, o educador, buscando novas soluções por meio do autoconhecimento, com o deslumbrar de outras fontes e assumindo o compromisso da transformação pessoal e social, passa a se tornar, juntamente com os demais profissionais da área de saúde, os artífices de uma nova proposta integrada, com a devida abertura para o desempenho de funções políticas e sociais em que se manifestem as eventuais necessidades de educação.

Nesta perspectiva, o pedagogo hospitalar atuará como uma ponte de mediação não só com o ambiente escolar, mas também com a equipe médica, pois usará estratégias para que o discente sinta-se à vontade num ambiente que frequentemente é visto como um foco de desânimos para as pessoas que se encontram em internação. Contribuindo assim, inclusive para processo de curativo do enfermo.
Nesse momento, é importante salientar que o Pedagogo Hospitalar em nenhum momento dará diagnósticos aos pacientes, pois o mesmo não possui capacitação e nem tão pouco qualificação profissional para este tipo de trabalho, mas de alguma forma o mesmo poderá ajudar a equipe médica ao oferecer auxílio, atendimento emocional e humanístico tanto para o paciente como para os familiares, que na grande maioria das vezes apresentam problemas de ordem psicoafetiva que podem prejudicar na adaptação do enfermo ao espaço hospitalar de forma psicológica, por isso esperam-se resultados positivos dos diagnósticos ou tratamentos.
Alguns exemplos dos trabalhos pedagógicos realizados no ambiente hospitalar são a utilização de brinquedotecas, videotecas, dentre outros espaços que são instalados para a concretização dos trabalhos de leitura, alfabetização, contação de histórias, desenvolvimento de raciocínio lógico em cálculos matemáticos e desenvolvimentos de atividades lúdico pedagógicas com os pacientes. Essas atividades visão oferecer as crianças e adolescentes hospitalizados a valorização de seus direitos a educação e a saúde, bem como também a atenção humanizada que proporcione uma formação cidadã de qualidade.

III)             CONSIDERAÇÕES FINAIS

Há ainda muito que se fazer no sentido de qualificar profissionais e expandir estudos mais aprofundados nesta área, apesar de já percebermos que a mesma é bastante eficaz e diversificada. Cada vez mais os educadores percebem que a mudança pedagógica não se faz só promoção de aprendizagem de seu aluno dentro ou fora da sala de aula, mas também na experiência vivenciada pelo próprio profissional que a põe em prática ao conhecer novas situações e novas descobertas. Nessa prática, tem-se a possibilidade de perceber e desenvolver habilidades que eles mesmos desconhecem. Se já é difícil e complexo educar uma pessoa no ambiente escolar que esteja aparentemente saudável, quem dirá uma que esteja em tratamento patológico em um hospital. Isso sim é um desafio educacional laborioso.
            Nessa perspectiva, temos que a classe hospitalar deve, portanto, favorecer o desenvolvimento de atividades pedagógicas bem como oferecer um espaço para tal, dispondo de mobiliário adequado, instalações sanitárias próprias, completas, suficientes e adequadas, além de espaço ao ar livre para atividades físicas e lúdico-pedagógicas. Assim, com base em tudo que se foi exposto, podemos perceber que a educação como direito de todos os cidadãos (inclusive a classe hospitalar) se dá desde nossa Constituição de 1988. Cabe aos profissionais de educação labutar por fazer valer esses direitos e viabilizar as oportunidades de acesso a educação a esses educandos, bem como saber reconhecer o espaço e o papel do pedagogo hospitalar no ambiente hospitalar e nas classes hospitalares.


REFERÊNCIAS

BRASIL. Conselho Nacional das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia, Licenciatura. Resolução nº 1 de 15 de maio de 2006 (DOU 11/04/2006).

BRASIL. Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente. Resolução n° 41 de Outubro de 1995 (DOU 17/19/95).

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Lei nº 9.394, de 23 de dezembro de 1996. Resolução CNE/CEB nº 2, de 11 de setembro de 2001.

FRANCO, M. A. S. Pedagogia como ciência da Educação.  Campinas, SP: Papirus, 2005.

LIBÂNEO, José C. Ainda as perguntas: o que é pedagogia, quem é o pedagogo, o que deve ser o curso de pedagogia. In: PIMENTA, S. G. (Org.). Pedagogia e pedagogos: caminhos e perspectivas. São Paulo: Cortez, 2002. p. 59-97.

MATOS, Elizete Lucia Moreira; MUGIATTI. Margarida Maria Teixeira de Freitas. Pedagogia Hospitalar: a humanização integrando educação e saúde. Rio de Janeiro: 4ª ed. Vozes, 2009.


REFERÊNCIA COMPLEMENTAR:

ASSIS, W. de. Classe Hospitalar: um olhar pedagógico singular. São Paulo: Phorte, 2009.

BRANDÃO, Carlos R. O que é educação. São Paulo: 33ª ed. Brasiliense, 1995.

COMENIUS, 1592 – 1670. Didática magna. Tradução Ivone Castilho Benedetti. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 1997.

DAMATTA, Roberto. O que é o Brasil. Rio de Janeiro: 1ª Ed. Racco, 2003.

GADOTTI, Moacir. História das Idéias Pedagógicas. São Paulo: 7ª ed. Ática, 1996.

GHIRALDELLI Junior, Paulo. O que é pedagogia. São Paulo: 4ª. ed. Brasiliense, 2007.


Daniel Feitosa Barros (BARROS, Daniel Feitosa.)
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - UFPI
TERESINA-PI
PUBLICADO: COLOQUIO AFIRSE, 2011.